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quinta-feira, 2 de junho de 2016

Eu represento-me: não a movimentos sociais e colectivos.

Quando vejo polémicas como as de uma peleja entre machismo x feminismo logo penso, não há lado certo. Um é abominável e o outro é simplesmente, em linhas gerais, a reacção de inversão deste. Quando uma feminista diz que TODOS os homens tendem a ser estupradores ou que um machista justifica um estupro em grupo porque a mulher estava DEPOIS do horário desacompanhada à rua (Brasil e Índia, respetivamente) eu pergunto-me: o que há com o mundo? 

Quando um negro precisa submeter-se a um colectivo e por qualquer põe de volta o pé de volta à senzala que nem mais existe e discrimina o não negro em seu discurso ao dizer que o diretório de negros deve pertencer a negros, pois só estes sabem o que é sofrer racismo, eu coloco-me a seguinte questão: não é só a mãe que pode ser mãe e o pai que pode ser pai? É mesmo assim? É mesmo deste jeito primitivo que funciona o mundo?  

Aí penso com mais esmero e vejo-me enredado em uma teia: ao fim e ao cabo querem representar-me enquanto um fantoche de bandeiras que não levanto. Não incomodo-me que chamem-me de negro. Não acho pejorativo e, tão-pouco, racismo. Incomodar-me-ia caso fizessem-me de capacho, de serviçal ou mo impedissem de frequentar lugares que queira ir porque sou negro. Mas eu sei defender-me e não preciso de um grupo ligado ao socialismo para que faça-me isto. Não sou desprovido de intelecto para que delegue a outrem questões minhas. Não é de meu feitio. Alguém aí duvida? Alguém aí acha-se menos propício a operar sua própria defesa quotidiana? 

Mas lá estão os porta-vozes do apocalipse. Lá estão os advogados, que sempre cobram, para criar movimentos e colectivos cuja função é defender as suas crenças e desejos e não as minhas, que sou proibido de pensar diferente. Tenho que ser a favor de políticos que evidenciam a diferença. Tenho que ter em mente que sou inferior e que devo querer ser superior à forceps. Quem não deparou-se com preconceituosos? Todos. Mas quem não deparou-se com vítimas de preconceitos que transformam-se nos piores preconceituosos possíveis? Também não é novidade. E é deste segundo grupo que estes movimentos alimentam-se. A despertar a pena, a compaixão para alguém que tem plena condições de ser a si mesmo e por si mesmo, tais elementos apenas mantêm os preconceitos já existentes e conduzem-me à petrificação, sobretudo quando convém. 

Não engane-se. O mundo inteiro quer demonstrar que nós temos falhas. Mas este mundo socialista e capenga engana-se. De uma situação cria múltiplas facetas. Constrói os tabus quando os solidifica. Depõe contra si mesmo quando deveria primar pela liberdade de homens, mulheres, gays, lésbicas, bissexuais, transsexuais, transgéneros, negros, negras, índios, e assim por diante como liberdade total para serem o que quiserem e não comporem uma soma de vítimas eternas que não reagem diante do céu turvo em que emergem. 

Aos que não gostarem de meu texto tomem-no como todos os outros: um texto irónico. Sempre um texto irónico. 


Eustáquio Silva (03/06/2016)

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